REC’N’PLAY | O Porto Digital e a vocação do Recife para a inovação

Quatro dos responsáveis pelo sucesso do parque tecnológico estiveram reunidos no Rec’n’Play para contar um pouco da trajetória e as perspectivas para o futuro; a TDS Company, criada por um dos fundadores do Porto Digital, Silvio Meira, se sente orgulhosa de participar deste importante ecossistema de inovação e agora compartilha com vocês um pouco desta história

Se alguém dissesse no final dos anos 90 que Recife se tornaria referência nacional na área de tecnologia e inovação por meio de um parque tecnológico com faturamento de R$ 3,6 bilhões, mais de 350 empreendimentos e 15 mil colaboradores, provavelmente receberia olhares incrédulos. Sim, nós já tínhamos o respeitado Centro de Informática (CIn) da UFPE e o então novíssimo Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (CESAR). Mas ainda faltava algo. Um empreendimento maior, mais ambicioso, capaz de participar de processos de decisão, dialogar com os setores público e privado, impactar a sociedade, promover a diversidade e formar redes. 

Sim, o Porto Digital é tudo isso, mas para que ele fosse o que é, foi preciso muita articulação coletiva e espírito empreendedor de pessoas engajadas com a inovação e o desenvolvimento. Durante a programação do Rec’n’Play, maior festival de experiências digitais do Nordeste, quatro delas estiveram reunidas para contar a história de 22 anos do Porto Digital: Silvio Meira, um dos fundadores e atual presidente do Conselho de Administração; Cláudio Marinho, também fundador, Francisco Saboya, ex-presidente e Pierre Lucena, presidente do Porto Digital. O encontro contou também com José Claudio de Oliveira, CEO da Procenge, como mediador.

22 ANOS DO PORTO DIGITAL – A IDEIA

O conceito do que viria a ser o Porto Digital veio da cabeça de Silvio Meira, inspirado pelo modelo do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), onde se graduou, que formou um cluster na cidade de São José do Campos e alterou profundamente a dinâmica da região, criando um ecossistema capaz de produzir conhecimento ao mesmo tempo que atraía investimentos.

Em Pernambuco, a UFPE sofria de falta de contexto e de alinhamento com a realidade econômica local. Segundo Silvio Meira, a ideia inicial era criar algo próximo da própria Universidade, mas foi convencido do contrário pelos colegas devido ao distanciamento do centro da cidade. 

“O que era preciso fazer na cidade era uma renovação do centro urbano, trazendo pra cá o pessoal da área de tecnologia. É um processo que envolve urbanismo em um projeto nada trivial. Desenvolver um cluster sustentável como esse é algo que leva pelo menos 50 anos. Já atravessamos 22 e os anos que virão serão críticos. Se daqui pra lá não precisarmos mais de insumos estruturais, e sim de apoios conjunturais, o Porto Digital terá sido bem sucedido”, avalia.

22 ANOS DO PORTO DIGITAL – O LUGAR

Um dos responsáveis por fazer Silvio Mudar de ideia quanto ao local que seria ocupado pelo parque tecnológico foi o então secretário de Ciência e Tecnologia de Pernambuco, Cláudio Marinho, que não por acaso é urbanista. Para ele, a escolha do lugar era um dos elementos determinantes para o sucesso da empreitada. Depois de pensar em ocupar o prédio da Sudene e as ruínas do bairro da Várzea, a ideia de levar o parque tecnológico para o centro da cidade capturou a imaginação dos dois.

“Pensamos em um local que estivesse completamente conectado com a cidade. Era preciso sair do meramente funcional. Se o Porto Digital já fosse próximo dos alunos e dos professores, o que eles encontrariam neste breve caminhar entre a universidade e o parque tecnológico?”, questiona Cláudio Marinho. 

E foi pensando neste enredo capaz de oferecer às pessoas uma experiência mais rica de cidade que o projeto começou a ocupar o coração do Recife. Superada a questão geográfica, porém, outros desafios se colocavam adiante: como impactar a economia de Pernambuco, do Nordeste e do Brasil? Como o faturamento bilionário e as centenas de empreendimentos do ecossistema poderiam contribuir com a vida das pessoas?

22 ANOS DO PORTO DIGITAL – O PLANEJAMENTO

O economista Francisco Saboya assumiu a presidência do Porto Digital em 2007, quando o parque já gozava de grande visibilidade. Foi neste período, porém, que se percebeu pela primeira vez as vulnerabilidades críticas do parque tecnológico e que, para superá-las, era preciso um planejamento robusto, executando as ações rigorosamente segundo os manuais de boas práticas administrativas.

Ao longo dos 11 anos seguintes, período em que esteve à frente do Porto, o planejamento contou com três eixos: fortalecimento da qualidade da equipe através do investimento em profissionalização; captação de recursos; e atração de pessoas.

“Eu fiz o que pude para tornar o Porto o mais atrativo possível para as pessoas. O que importa é gente. Pessoas. Desenvolvemos um conjunto grande de intervenções que criaram uma ambiência, um lugar onde as pessoas queiram estar, precisam, possam e queiram permanecer. Isso implica no cinema, na criação da área de indústrias criativas, conectar com prefeitura e governo para melhorar infraestrutura, etc.”, conta.

22 ANOS DO PORTO DIGITAL – O FUTURO

Pierre Lucena, atual presidente do Porto Digital, ao tomar posse, encontrou uma rede de negócios e empreendedorismo bastante estruturada na forma de um hub completo cuja alma estava cravada no centro do Recife. Mas sentiu falta de mais gente. Na época eram pouco menos de 10 mil colaboradores.

“Se faltar pessoas, a gente perde o potencial empreendedor e o investimento despenca. Tratamos de fazer um mapeamento das vagas ofertadas e descobrimos que 96% delas demandavam ensino superior. O que nós fizemos? Começamos a formar pessoas em parceria com universidades privadas através da nota do ENEM e com um olhar especial para a inclusão das pessoas de baixa renda, através do programa Embarque Digital”, lembra.

Atualmente são 1,4 mil alunos contemplados e a meta é alcançar três mil em 2023, mais da metade deles oriundos de escola pública, que por sua vez são majoritariamente negros e pardos. Trata-se de um mecanismo que aproveita a alta especialização do Recife na área de tecnologia (só na capital pernambucana atuam cerca de 600 PhDs) para multiplicar o conhecimento e qualificar pessoal.

“A gente não pode aceitar que um jovem da periferia não possa ter oportunidade. E o Porto Digital precisa ser a principal alavanca dessa mudança. O Porto é de todo mundo e de ninguém. Ele é uma política pública perene que tem como grande objetivo mudar a cidade do Recife. Se nos próximos 30 anos tivermos 40 ou 50 mil trabalhadores no Porto Digital, teremos transformado a cidade. Com inclusão”, finaliza.

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